terça-feira, 6 de dezembro de 2016

As Mulheres Abortam.


As mulheres abortam. Isso independe de uma legislação. 
Os dependentes químicos se drogam. Isso independe de uma legislação.
Os homossexuais se casam (de fato, na prática). Isso independe de uma legislação. 
Os ladrões roubam. Isso independe até mesmo da Constituição!
Os pedófilos abusam sexualmente de menores de idade. Isso independe de uma legislação. 
Os assassinos matam. Isso independe de uma legislação. 
etc...

O que há de comum em tudo isso?



As pessoas agem por motivos diversos e sempre terão suas próprias justificativas. As leis podem reprimir, podem inibir, mas jamais impedem por completo que um ser humano faça aquilo que está disposto a fazer. 
Mudar padrões, alterar conceitos, modificar tradições, transformar... essa é a luta constante entre o homem e a sociedade. Nessa busca, há sempre muita dor e sofrimento. Pois o ser humano é plural, mas vive tentando se acomodar em blocos homogêneos. Isso porque sendo um animal social, que depende do grupo para sobreviver, precisa criar laços de solidariedade. Não existe um só ser humano que viva completamente excluído da sociedade. 
Sempre que posso converso com hippies e às vezes peço um contato para poder encontrar a pessoa novamente e comprar outras peças. Acontece que a maioria dos hippies não tem celular, porque não tem cpf, porque consideram que assim não fazem parte do "sistema", são livres. Acho muito legal essa filosofia, mas um tanto sem sentido, já que eles usam a urbes para sobreviver. Eles precisam do "sistema", precisam de segurança, saúde, moradia, luz elétrica, esgoto, água. Em resumo, mesmo que você more no Alaska, vai precisar de outros seres humanos. 
Sendo assim, como então conciliar a necessidade do outro, com suas próprias necessidades? A mágica do viver em sociedade é exatamente o equilíbrio entre as necessidades coletivas e individuais. Com a intenção de se aperfeiçoar essa relação, as sociedades desenvolveram alguns sistemas, dentre eles o sistema legal. Há muitas formas de governo e de sistemas econômicos, e cada uma dessas formas combinadas produz um tipo de sociedade, com determinado tipo de leis.
A quem essas leis favorecem... pode variar muito. Mas sempre haverá um mais favorecido que o outro, e tudo segue suspenso e sustentado por uma linha bastante tênue, em que se equilibra a coesão social. Quando a linha arrebenta e o equilíbrio cai, temos as chamadas guerras civis. As manifestações e protestos balançam a corda, mas é só quando a corda arrebenta que a coisa realmente perde o equilíbrio e é preciso reconstruir tudo outra vez. 
Mas por que eu estou falando sobre tudo isso? Simples.  
Algumas necessidades individuais, que muitas vezes nos unem a subgrupos dentro da sociedade, entram em choque com os interesses defendidos pela maioria, ou mesmo por outras minorias (quando são essas que realmente governam. Isto que acontece quase sempre). A maior parte desses conflitos tem uma razão moral e/ou ética de ser. A questão, é que por mais que uma sociedade tenha uma ética e uma moral mais amplamente aceitas, a forma como cada um se apropria delas é muito específica e está determinada por suas experiências de vida. O consenso, nesses casos, é o mais difícil de se obter. 
No Brasil, por mais que vivamos em uma "democracia" liberal, quando o conflito exige uma decisão que afeta a moral das pessoas, não há argumento que os convença. Por mais individualistas que sejamos e por mais que uma determinada atitude não lhe atinja diretamente, o simples fato de dar o aval a algo do qual se discorda moralmente, constitui-se, por si só, em uma auto- agressão. É como o lavar das mãos de Pilatos. Se vocês querem fazer, façam, mas eu não posso decidir a favor disso.
Essa semana explodiu a questão da possibilidade de legalização do aborto. As pessoas contrárias ao aborto não podem nem mesmo discutir as condições nas quais um aborto seria aceitável. A moral os condena pelo simples fato de citar tal absurdo. Por outro lado, aqueles que defendem com afinco a prática, não podem nem mesmo ouvir uma negativa ou um argumento contrário, pois ficam ensandecidos com o dever moral de fazer garantir o direito da mulher em abortar sem ser criminalizada. Com base na bíblia, os cristãos moralmente discordam da prática do aborto, como de todas as outras práticas citadas acima. Mas vamos nos ater a questão do aborto. 
Alguns trechos bíblicos informam que mesmo antes de estar no ventre, Deus já tem um propósito para cada ser humano. Para o cristão, a vida não é apenas biológica, mas o biológico é a concretização da vida humana.  Discutir se o feto com menos de 12 semanas é um ser humano ou não, não fará a menor diferença. Ao final temos alguns dos trechos bíblicos que justificam essa visão. 
Crença é crença, e não exige provas para tal. Os cristãos não podem provar empiricamente a existência de Deus, assim como os ateus não podem comprovar a não existência de Deus. Nesse reino vale o que se acredita. Para os não religiosos, alguns tratam o embrião como um simples amontoado de carne que, como uma verruga, pode ser extraído sem problemas de ordem moral ou filosófica. Não há discussão sobre a vida quando se fala de um amontoado de células. Outros entendem que assim como tudo na vida, há sempre um início, cujo processo não sendo interrompido, resultará naquilo para o qual foi proposto. Para estes, uma vida em potencial, é uma vida e não podem ignorar que neste amontoado de células há vida. Com 8 semanas já é possível ouvir o coração bater. Mesmo que não haja atividade cerebral, há um coração gerando vida. 
Mas o que é vida?
Uma definição mais sofisticada diz:
"A definição Bioquímica (ou bio-molecular)
Seres vivos são seres que contém informação hereditária reproduzível codificada em moléculas de ácidos nucléicos e que controlam a velocidade de reações de metabolização pelo uso de catálise com proteínas especiais chamadas de enzimas. Esta é uma definição de vida muito mais sofisticada que a metabólica ou fisiológica. Existem, também neste caso, alguns contra-exemplos: existe um tipo de vírus que não contém ácido nucléico e é capaz de se reproduzir sem a utilização do ácido nucléico do hospedeiro."
Dizer que um embrião não é uma vida, é algo que não podemos fazer. Porque vida, não depende de atividade cerebral. Vida depende de células (no caso humano). Tentar diminuir a importância de um embrião não faz com que o aborto deixe de ser uma forma de matar uma vida. Não, o aborto não mata um bebê, não mata um ser humano formado. Mas é inegável que no aborto há morte, põe-se fim a vida e ao potencial dessa vida. Isso independe de crenças ou moral, pois é um fato. 
Entretanto, a morte intencional, mesmo de seres humanos já nascidos, crescidos, desenvolvidos, não é algo alheio em nenhuma sociedade. Algumas tem a pena de morte como punição para os criminosos, outras tem o assassinato de deficientes e de um dos bebês que nascem gêmeos, como entre algumas tribos indígenas. Alguns países legalizaram a eutanásia. Vários já legalizaram o aborto. O direito de matar é um direito que a sociedade concede em algumas situações. Discutir hoje a questão da legalização do aborto no Brasil é discutir o que a sociedade deseja em termos de formalizar o direito de matar embriões e fetos.  No livro "Aborto: o Holocausto Silencioso", fica claro, como nos Estados Unidos foi usada a estratégia semântica de separar a palavra “aborto” da palavra “matar”, para conquistar o apoio da população na legalização dessa prática.
Como dito no início: As mulheres abortam. Segundo a OMS são realizados mais de 2 mil abortos clandestinos por dia no Brasil. Acontece que a maior parte dessas mulheres fazem isso de forma a colocar a própria vida em risco. Muitas morrem. Procedimentos ainda são feitos com arames, clipses, duchas e etc. As que tem um pouco mais de informação e recursos usam remédios, como os usados nos hospitais, e correm menos riscos, apesar de muitas vezes usarem doses exageradas. Para as que sobrevivem aos procedimentos insalubres e traumáticos, ficam as dores, a culpa, muitas vezes o remorso, depressão, ansiedade, estigmas e outros problemas. Se uma mulher tenta abortar e chega a um hospital porque está passando mal, com hemorragia ou alguma outra complicação, não importa se é na rede particular ou pública, recebe na maioria das vezes uma condenação moral e práticas desumanas de prolongamento da dor, além da tortura psicológica. Nada muito diferente do que se faz com alcoólatras ou jovens bêbados vindo de festas, dependentes químicos, criminosos feridos, homossexuais com DST... 
Precisamos pensar e nos questionar: Se não há como impedir que as pessoas façam opções que trazem consequências difíceis. O que podemos fazer? Será que as pessoas fazem essas escolhas porque querem problemas? Querem sofrimento? Não, as pessoas querem ser felizes. E mesmo quando uma pessoa acha que sabe as consequências, ela não tem a real dimensão do problema, ou então dificilmente teria uma atitude prejudicial. Salvo caso de pessoas doentes e psicopatas. 
Uma mulher não aborta porque acha divertido. Ela pode estar querendo sair de um casamento infeliz e cheio de sofrimento e com uma criança se sentir presa aquilo para sempre. Pode estar desempregada e achar que ter o filho só vai causar sofrimento a criança. Pode não ter nenhuma estrutura psicológica ou social e econômica. Pode achar que não será boa mãe. Pode estar com medo que o filho nasça com AIDS. Ela pode simplesmente achar que não é uma boa hora e que vai atrapalhar seu futuro. Os motivos podem ir de um estupro, abuso familiar... até o ato mais individualista de simplesmente não querer. Mas em todos os casos, nunca será uma decisão fácil ou legal. A imensa maioria decide pelo aborto porque se vê em desespero. 
Nos outros exemplos citados, uma pessoa não escolhe ser criminoso, assassino, pedófilo ou fazer sexo desprotegido (como no caso das populações vulneráveis de prostitutas e homossexuais) simplesmente porque acham legal. As pessoas têm histórias e na maior parte delas está algum tipo de exclusão. 
Essas pessoas não precisam de um julgamento moral, elas precisam de ajuda. Debater a face moral e ética do aborto deve ser algo que nos leve para a prevenção: estudar, compreender e assim agir sobre o problema. Mas enquanto caminhamos, é preciso cuidar dos feridos, daqueles que estão morrendo pela nossa resignação em fechar os olhos para estes problemas. 
Um crime é sempre um crime. Nenhum assaltante deixa de responder criminalmente por seus atos, por mais nobre que seja seu motivo, por mais sofrida que seja sua história. Moralmente, descriminalizar algo é tornar uma prática aceitável e legal.  Diferente da dependência química e do alcoolismo, o aborto não é um vício. Como cristã não posso defender que esta é uma prática aceitável, boa, que deve ser livremente praticada, dependendo apenas da decisão da gestante. Porque eu acredito que a vida, em seu mais amplo sentido, deve ser preservada. Não posso dizer que o homem deve ter o direito de tirar a vida de outro homem ou mesmo de si próprio. O que me faz ser contra qualquer tipo de prática que gere a morte de um ser humano, seja pena de morte, eutanásia ou aborto. 
Mas, também por ser cristã e por minha moral, não posso negar ajuda a quem precisa ou simplesmente fechar os olhos para os necessitados. E por isso defendo que é preciso cuidar das mulheres que abortam, é preciso que a sociedade discuta e pense sobre a melhor forma de evitar uma gravidez indesejada e de garantir a mulher e ao feto o direito à vida e a dignidade. Esse é um problema de todos. Precisamos de mais responsabilização e menos julgamentos. Abortar não é correto, mas deixar uma mulher morrer também não. Querer se eximir da responsabilidade de cuidar dos vulneráveis dizendo: faça o que achar melhor, seu corpo suas regras, também não é correto. 
As mulheres abortam. Existem motivos, existem contextos. Precisamos conhecer essas mulheres. Precisamos fazer algo para que as mulheres não precisem abortar. Porque seja de forma legal ou ilegal, o aborto gera morte e sofrimento. 

Trechos bíblicos sobre a vida ainda no ventre:

Jeremias 1:5: “Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da mãe te santifiquei; às nações te dei por profeta”.

Salmos 139:13-14: “Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem”.

Êxodo, capítulo 20, versículo 13, que diz: “Não matarás”

“Mantiveste-me abrigado no ventre da minha mãe. . . . Teus olhos até mesmo me viram quando eu era um embrião; todas as partes dele estavam escritas no teu livro com respeito aos dias em que foram formadas, antes de existir qualquer uma delas”. — Salmo 139:13, 16.


                                                           Somos plurais, mas não podemos viver sem consensos.
fonte:

http://rizomas.net/ensino-de-biologia/recursos-pedagogicos/202-o-que-e-vida-ha-uma-definicao-precisa-veja-a-resposta-de-pensadores-importantes.html
https://www.famivita.pt/tabela-referencia-tamanho-peso-feto-gravidez/

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