sábado, 19 de maio de 2012

O início - reflexões para hoje

#1
19/05 texto Bíblico: Gênesis 1 -3. Resumo: Há alguns pontos importantes que podemos aprender com estes três primeiros capítulos da bíblia. O texto começa descrevendo de forma sintética a criação do mundo. Esse trecho inicia-se no verso 1 do cap. 1 e termina no verso 4 do cap. 2. Onde depois é feita uma pequena descrição do Jardim do Eden, o lugar criado por Deus para que o homem pudesse viver com os animais, sendo o lugar onde é feita a mulher, sua companheira. Esse trecho vai do verso 5 do cap. 2 até o verso 25 do mesmo cap. Então no cap. 3 é retratada a desobediência de Eva e Adão, quando a serpente desafia a sentença de morte que Deus havia declarado para os que comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal. Esse trecho vai do verso 1 ao verso 12. Já no verso 13 até o 21, Deus declara o castigo do ser humano por ter desobedecido sua ordem. No verso 22 ao 24 esse castigo é cumprido e homem é expulso do Jardim do Eden, o que terá sérias consequências para a humanidade. O que aprendo com essa passagem bíblica – dissecando o texto. 1º ponto: O mundo foi criado em 6 dias e no 7º dia Deus descansou. A palavra de Deus é enfática quanto a criação do mundo, não nos deixando outras possibilidades quanto a origem de nosso planeta. Lembrando que nestes primeiros capítulos ainda não há nenhuma referência à origem ou criação do universo. O próprio Deus, todo poderoso declara sua autoria nesta magnífica criação. Entretanto, o texto bíblico não os oferece informações muito detalhadas sobre a natureza original da fauna e da flora, o que nos abre um parêntese quanto à possibilidade de uma adaptação da teoria evolucionista, visto que os animais por Deus criados há bilhões de anos, poderiam ter sofrido adaptações e, portanto, terem evoluído. Outra questão que não é esclarecida na bíblia é a existência, já comprovada cientificamente, mas sem alusão bíblica clara, dos dinossauros. Esses répteis gigantes, de diversas espécies, existiram, contudo não há nenhuma referência significativa sobre sua existência ou desaparecimento na bíblia. Precisamos considerar que a bíblia é relativamente jovem (“Segundo a tradição, aceita pela maioria dos cristãos, a Bíblia foi escrita por 40 autores, entre 1445 e 450 a.C. (livros do Antigo Testamento) e 45 e 90 d.C. (livros do Novo Testamento), totalizando um período de quase 1600 anos.”) se considerarmos a época dos dinossauros, que segundo estudos, viveram entre o período triássico há 230 milhões de anos e o período cretáceo, há 65 milhões de anos. Assim, quanto a criação do mundo e dos seres que nele habitam, como cristãos crentes na santidade da bíblia, entendemos que o planeta terra ou o universo teriam surgido do caos de uma grande explosão, ou que o homem evoluiu de um primata. Deus é o grande arquiteto do universo e criou o homem a sua imagem e semelhança, com as mesmas faculdades mentais, sentidos e capacidades físicas. Provavelmente essa semelhança se dá em termos de escalas, mesmo assim é o suficiente para que rejeitemos a ideia de evolução a partir de primatas. Contudo, ficam algumas questões: A descrição bíblica é de criação do mundo, do planeta terra, mas o título do capítulo se refere a criação do universo. Hoje entendemos cientificamente que o universo inclui outros planetas e galáxias. Isto indica que o título é de uma época em que o homem ainda não possuía esses conhecimentos e acreditava que o planeta terra contivesse toda a existência e todo o universo. Neste caso, seria possível que o universo tivesse surgido de um Big Bang? Não exatamente, visto que a teoria cosmológica dominante do desenvolvimento inicial do universo, vulgo Big Bang, baseada nos estudos de George Lamaître que originalmente chamava sua teoria de “hipótese do átomo primordial”, defende que a cosmologia do universo advêm de uma explosão causada por super temperaturas. O que significa isso? Significa que não seria Deus o criador da terra, ou do universo, pois a partir deste átomo primordial é que as coisas teriam começado a existir. Mas então chegamos ao ponto interessante desta teoria. Se o universo realmente começou a existir a partir desta grande explosão, o que a teria causado? Os estudos de Lamaître, ou de seus sucessores, como Edwin Hubble, Alexander Friedmann ou Fred Hoyle, não sabem. Então, ainda que esta teoria fosse aceita como completa, ainda assim não seria uma prova contundente ou refutável da criação divina, pois o processo de criação bíblico não nos revela detalhes, e bem que estas teorias evolucionistas ou do átomo primordial, poderia ser detalhes da criação divina. 2º Ponto: Outro dia no metrô eu conversava com uma amiga sobre a ingestão ou não de carne animal. Ela é vegetariana há muitos anos e milita em prol de sua causa. Então comecei a pensar a respeito da posição do cristianismo em torno desta questão. Interessantemente neste texto, mais especificamente no verso 29 do primeiro capítulo diz o seguinte: “29 - Para vocês se alimentarem, eu lhes dou todas as plantas que produzem sementes e todas as árvores que dão frutas. 30 –Mas, para todos os animais selvagens, para as aves e para os animais que se arrastam pelo chão, dou capim e verduras como alimento.” Neste versículo vemos que a alimentação do homem e dos próprios animais, não sendo especificado apenas os animais aquáticos, era exclusivamente vegetal, ou seja, esta lógica predadora que vemos no reino animal e entre os humanos é algo que não está em sua criação ou em sua essência até este momento. Deus não criou o homem para comer os animais, como alguns entendem e se justificam usando a ordem de Deus para que o homem domine os animais. Na verdade, esta dominação, ao meu ver, nem mesmo se refere a explorar os animais, mas a um sentido de responsabilidade, de cuidado. Em hebreus o homem é tido como coroa da criação, neste sentido há uma hierarquia, visto que a organização humana e a própria ordem das coisas na terra seriam um reflexo da organização celeste. Mas esta é outra questão. Voltando apenas a questão da alimentação. No verso 15 a 17 do cap. 2 há mais uma referência a esta questão, vejamos: “15- Então o Senhor Deus pôs o homem no jardim do Éden, para cuidar dele e nele fazer plantações. 16 – E o Senhor deu ao homem a seguinte ordem: - Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, 17 – menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore; pois no dia em que você a comer, certamente morrerá.” Em mais esta passagem o que vemos é que Deus colocou a natureza, fauna e flora, aos cuidados do homem. O homem poderia comer as frutas e os vegetais produzidos ali. Apenas não poderia comer a fruta de uma árvore, o que discutiremos a seguir. Até este momento não vemos nenhuma referência a morte de animais. Apenas depois do ato de desobediência, quando Eva e Adão comem da fruta proibida é que temos a primeira referência: “21- O Senhor Deus fez roupas de peles de animais para Adão e a sua mulher se vestirem.” Mas não se sabe se os animais morriam naturalmente e a pele usada foi de animais já mortos, ou se esses animais foram sacrificados, afinal Adão e Eva comiam da árvore da vida e não morriam, o que pode ser feito pelos animais também. De toda forma, Adão e Eva podiam falar com os animais e viviam com eles em harmonia, mas depois da desobediência, entendida como um pecado, ou seja, uma transgressão, vemos a primeira referência bíblica a morte. Deus já havia advertido o homem e a mulher que o dia em que comessem da árvore do conhecimento eles morreriam. O que acontece é que em outras passagens vemos que o salário do pecado, seu resultado, é a morte espiritual e carnal. Neste episódio observamos que a morte não atingiu apenas Eva e Adão, mas também aos animais que os rodeava. Talvez seja aí que tenha surgido também a prática carnívora entre os próprios animais, visto que a princípio Deus diz que os animais se alimentariam de capim e de verduras. Assim, em minha opinião, Deus não criou o homem para ser omnívoro, os animais não estavam incluídos na dieta humana. Mas com a transgressão de Eva e Adão ocorre também o início do uso de animais, primeiro para cobrir o homem com sua pele, depois nos sacrifícios, como no caso de Caim e Abel. Talvez haja pessoas que culpem a Deus por aceitar sacrifícios de animais no velho testamento, mas a questão é que toda ação possui consequência, a velha lei da ação e reação. Deus não quis jamais o mal dos homens e nem dos animais. O homem escolhe seu próprio destino, pois cada ação que o homem faz produz uma reação, e isso é um fato, a escolha é uma opção, mas o que será depois disto não. Quando Adão e Eva decidiram desobedecer eles estavam assumindo os riscos dessa escolha, e eles sabiam bem quais eram esses riscos. Infelizmente o fato de vivermos em sociedade implica que a ação individual não produz apenas resultados individuais, mas sim produz consequência que afetam toda a comunidade em que aquele indivíduo se insere. Se ocorre assim ainda hoje, para questões terrenas, que dirá para questões espirituais, que são de nível muito mais amplo. 3º ponto – Eu já li e reli este texto diversas vezes. Talvez você já o tenha lido também. A questão é que todas as vezes que lemos em uma nova versão temos também novas percepções. Deus havia explicado as regras: Seguinte, vocês podem comer as frutas de todas as árvores, podem comer os vegetais, apenas não comam da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Porque o dia em que vocês comerem desse fruto, certamente morrerão. Simples assim. A questão é que o ser humano é por instinto curioso. Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, porém Deus é ilimitado, enquanto o ser humano possui inúmeras limitações. Quando Deus criou Adão e Eva, Ele os fez com características divinas, mas não lhes deu todo o conhecimento que ele próprio tinha. Há uma razão muito óbvia para isto: Deus é completo e ilimitado, o homem é apenas sua semelhança, o homem não é Deus, não é completo e nem mesmo ilimitado. Em termos de escala, o homem seria uma versão rudimentar de Deus. É como se o homem fosse um Eniac (Electronic Numerical Integrator and Computer) a primeira máquina que se poderia chamar de computador... e Deus fosse um Jaguar, o computador mais rápido do mundo, que é 36 mil vezes mais rápido que um pc normal, imagine a distância entre um Jaguar e um Eniac, que era grande, lento e pouco confiável! O conhecimento total, o conhecimento do bem e do mal não era algo para o qual o homem estava preparado, por isso mesmo, era algo que traria o seu próprio fim, sua morte. O verso 6 do cap. 3 diz: “6-A mulher viu que a árvore era bonita e que suas frutas eram boas de se comer. E ela pensou como seria bom ter entendimento. Aí apanhou uma fruta e comeu; e deu ao seu marido, e ele também comeu.” Antes a cobra diz o seguinte, no verso 4: “4- Mas a cobra afirmou: - Vocês não morrerão coisa nenhuma! 5- Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal.” Bem, aí temos três coisas muito interessantes. A primeira é a atitude da mulher. Eva pensou, isso quer dizer que ela analisou a situação. O que a cobra disse fez com que Eva questionasse o que Deus havia dito. Ela sabia o que Deus havia falado, sabia a consequência que se seguiria após a transgressão da ordem. Mesmo assim ela decidiu experimentar a fruta. Eu fico pensando nos dependentes químicos hoje. Existe informação de que as drogas viciam e que matam a imensa maioria de seus usuários, contudo, as pessoas continuam experimentando, elas não conseguem controlar sua curiosidade. Há sempre alguém que diz o contrário, que tenta te persuadir e a pessoa acaba caindo na armadilha. Engraçado, mas as pessoas nem mesmo atentam para o fato de que, em geral, os traficantes não são viciados, ou pelo menos não o são ao nível do descontrole, pelo menos é o que corre no senso comum. A cobra instigou a mulher a experimentar a fruta, mas ela mesma não provou, é o que imagino pelo texto. O conhecimento que Eva tinha sobre a fruta era o suficiente para que ela tivesse tomado uma decisão certa, de não desobedecer a Deus. Mas ela não se conteve, ela deixou a dúvida penetrar em seu ser e foi nesse momento que ela não pôde mais resistir à tentação de dar uma provadinha. Esta é a segunda coisa interessante, entendo que a dúvida pode ser benéfica em muitos sentidos, entretanto, existem milhares de coisas que estão mais que comprovadas e que os fatos não deixam outra opção, então nesses casos a dúvida tende a resultar em novos erros e nada mais. Eva pensou que seria bom ter entendimento, seria bom ser como Deus. Mas a questão é que por mais que o homem seja semelhante a Deus, ele nunca será Deus, são naturezas diferentes, e toda vez que o homem tenta ser Deus, acontecem as coisas mais terríveis. Toda vez que o homem se sente superior aos outros, toda vez que toma o lugar de Deus, não só ele recebe as consequências desse erro, como também aqueles que estão a sua volta. E por que isso acontece? Porque o homem não foi feito para ser Deus, ele não possui estrutura física, mental ou emocional para isso. As coisas com as quais Deus consegue lidar nunca serão plenamente dominadas pelos homens. O próprio senso de justiça humana, a moral, a filosofia, nada consegue dar conta da complexidade dos sentimentos, nada no homem consegue dosar plenamente, alcançar o que poderia ser o nível ótimo dos sentimentos. O que quero dizer com isso é que o homem nunca poderá dosar seus sentimentos e emoções no mesmo nível que Deus, no nível de realmente fazer o que é melhor para todos, sem exceção. A história da humanidade nos mostra isso. Todos os que conseguiram algum êxito no domínio próprio, nunca quiseram tomar o lugar de Deus, mas entenderam seu lugar dentro da criação divina. Para terminar, a terceira coisa que acho interessante nesse texto é a relação entre a culpa e o castigo. Eva tomou uma decisão e enfrentou suas consequências. Mas Adão, por mais que coloque a culpa na mulher, também teve sua opção, ele poderia não ter comido, poderia não ter aceitado a fruta. Há sempre aqueles que tentam eximir Adão o máximo possível de sua responsabilidade, que culpam a mulher em demasia, e não se trata de feminismo ou machismo, isso se trata de responsabilidade e consciência. O que acontece é que o homem coloca a culpa na mulher e a mulher coloca a culpa na cobra, indo do mais forte para o mais fraco. Nem o homem, nem a mulher assumem sua culpa, nenhum deles disse: a decisão foi minha. Isso é uma tendência da humanidade, não assumir seus erros, não querer assumir a responsabilidade por suas ações, há sempre um mais fraco que recebe a culpa. Um exemplo bastante atual é o que vemos dia após dia nas forças militares, a culpa sempre será de um subordinado, sendo as praças os que ficam em maior desvantagem. No entanto, esse trecho também nos revela a justiça de Deus. Todos tiveram sua parcela de culpa e por isso todos foram castigados. Já na justiça humana, sempre que possível, apenas o mais fraco recebe toda a sentença. A cobra teria que rastejar, a mais esperta dos animais teria que comer o pó da terra para sempre. O homem e a mulher foram expulsos do Éden, surge então o trabalho e a dor no parto. Além disso, instaurasse a hierarquia familiar, e o domínio do homem sobre a mulher e a natureza. A humanidade e o mundo nunca mais seriam o mesmo. Fonte: Bíblia Sagrada: Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri (SP): Sociedade Bíblica do Brasil, 4ª edição, 2009. 1120 p. Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia (19/05/2012)